terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dispositivos intracardiacos: o que o cardiologista clinico precisa saber?


Dispositivos intracardiacos: o que o cardiologista clinico precisa saber?
 
Com o envelhecimento populacional (que resulta em maior numero de implantes de marca-passo cardíaco para tratamento de distúrbios de condução) e a indicação mais frequente de cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) para prevenção primaria e secundaria de morte súbita, o cardiologista clinico precisa se familiarizar com os termos usados pelos especialistas, com o funcionamento destes "devices" (termo frequentemente usado para referir-se aos dispositivos intracardiacos em publicações internacionais) e quanto às suas principais complicações, que devem ser manuseadas por uma equipe de especialistas, porém passa pelo cardiologista clinico o seu reconhecimento e devido encaminhamento. 
Assim, farei uma serie de revisões rápidas sobre o assunto a começar por esta postagem que trata do reconhecimento e manuseio das infecções relacionadas aos dispositivos intracardiacos. A seguir virão as seguintes portagens:
  • Reconhecendo os tipos de estimulação cardíaca (sua nomenclatura, indicações e sua identificação eletrocardiográfica). 
  • Principais alterações relacionadas ao funcionamento dos marca-passos (falhas de sensibilidade, de comando, desgaste, interferências) e recomendações para o seu  manuseio.
  • Orientando o seu paciente quanto ao uso de eletroeletrônicos após o implante de um  dispositivo: o que é mito e o que é verdadeiro sobre as interferências externas (com link para um manual prático de orientação para o leigo parava imprimir e entregar aos seus pacientes).
  • Finalizarei com uma postagem especifica sobre indicações de CDI para prevenção primária e secundária de morte súbita e de ressincronizador no tratamento da IC.
 Vamos à nossa primeira postagem, porque todos devem estar ansiosos pelas informações.


Manuseio das complicações infecciosas relacionadas a dispositivos intracardiacos: marca-passos e cardiodesfibriladores.
As recomendações aqui citadas se baseiam nas Diretrizes da American Heart Association  e Rhythm Heart Society, artigo de revisão publicado na New England JOurnal of Medicine em 30 de agosto deste ano.

As infecções de dispositivos intracardiacos estão entre as complicações mais temidas pelos especialistas em marca-passo pela seu potencial de complicações graves como Endocardite infecciosa, embolia pulmonar e trombose venosa séptica, todas de alta mortalidade. Sua incidência ė de cerca de 2% após 5 anos do implante e são considerados de maior risco:
1.    Implante de CDI quando comparado ao de marca-passo definitivo e de múltiplos eletrodos quando comparado ao unicameral;

2.    Complicações no local do implante do gerador principalmente hematomas, dificuldade de cicatrização, retração da loja (pelo risco de isquemia e perda de continuidade da pele);

3.    Procedimentos para troca de gerador e  "UP grades" de sistemas de estimulação;

4.    Pacientes portadores de insuficiência renal crônica.


Os agentes mais comumente relacionados a este tipo de complicação são o Stafilococcus aureus e Stafilococcus coagulase-negativos, habitualmente resistentes à oxacilina.

A apresentação clinica varia de quadros indolentes, apenas com achados locais inespecificos (mais comum com os coagulase-negativos) a quadros devastadores de septicemia rapidamente progressivos (mais comuns na presença de Endocardite infecciosa e com o S. aureus).
IMPORTANTE! A maioria dos casos (quase 70%) surge como achados locais na loja de implante do gerador SEM ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS VISÍVEIS! como dificuldade de cicatrização, erosão da pele com exposição do gerador, de um ou mais eletrodos, dor local, edema, drenagem de secreção (sanguinolenta, serosa ou pio-sanguinolenta). Hiperemia, calor local são menos frequentes. Sinais de infecção sistêmica ocorrem mais comumente nos casos de infecção de eletrodo ou de EI complicando a infecção do dispositivo. Dispneia com hipoxemia deve levar à investigação de Embolia pulmonar séptica e/ou pneumonia associada (se houver também sinais infecciosos sistêmicos).

Por este motivo TODOS OS CASOS DE COMPLICAÇÃO NA LOJA DE IMPLANTE DEVEM SER INTERPRETADOS COMO INFECÇÃO POSSÍVEL DO SISTEMA E TRATADOS COMO TAL

IMPORTANTE! TODOS OS CASOS (TODOS MESMO) DEVEM TER HEMOCULTURAS (pelo menos duas, idealmente 6) colhidas de locais diferentes e com intervalos de 30min para patógenos aeróbios e anaeróbios (se negativas e suspeita persistir com o paciente sem resposta clinica, estender para fungos e  patógenos de crescimento lento - HACECK Group).

Abaixo nas figuras de 1 a 3 os fluxogramas de investigação e tratamento sugerido por Baddour e cols. adaptado:



Por enquanto é só. Agradeço ao Dr. Abelardo Escarião, especialista em Marca-passo, pela consultoria a esta postagem.
Aguardo colaborações, duvidas, criticas... Até a próxima postagem.

Marcia Cristina

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Diagnóstico de Infarto Agudo do Miocádio na Era da Troponina Ultrassensível: Revendo conceitos.


Diagnóstico de Infarto Agudo do Miocádio na Era da Troponina Ultrassensível: Revendo conceitos....




Em 25 de agosto último durante o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Munique, foi anunciada a Terceira Definição Universal de IAM com chancela das principais sociedades internacionais de cardiologia [European Society of Cardiology (ESC), the American College of Cardiology (ACC), the American Heart Association (AHA) and the World Heart Federation (WHF)] e publicada simultaneamente em 5 jornais de grande impacto (European Heart Journal, the Journal of the American College of CardiologyCirculationGlobal Heart and Nature Reviews Cardiology).

 Segundo o documento, a Third Universal Definition of Myocardial Infarction, é necessário considerarmos as elevações agudas (injúria miocárdica aguda e infarto agudo) das elevações crônicas. Nas elevações agudas temos a característica elevação e queda dos níveis de marcadores da injúria ou necrose, enquanto nos quadros crônicos os níveis se mantêm persistentemente elevados.



As causas de elevação das troponinas de origem não isquêmica também são citadas:


O documento recomenda a dosagem da troponina à admissão e com 3-6 horas após. Valores considerados elevados estão acima do percentil 99 do valor de referência (que varia conforme o Kit em uso).

O diagnóstico de IAM se baseia na elevação e queda dos níveis de troponina, com pelo menos 1 das dosagens acima do percentil 99, ALIADOS À ELEVADA PROBABILIDADE PRÉ-TESTE DE IAM (DOR TÍPICA/FATORES DE RISCO/ECG).
Outra grande contribuição do documento é a CLASSIFICAÇÃO UNIVERSAL DE IAM em 5 tipos:





Dois conceitos importantes são reforçados no documento:

- Infarto agudo recorrente: nova dor torácica com elevação dos MNM após os 28 dias do IAM inicial ou incidente (primeiro IAM).

- Reinfarto: novo IAM ocorrendo dentro dos 28 dias do IAM incidente.

Resta a questão da troponina ultrassensível, que ficou omissa do documento por não ser autorizada pelo FDA. NÃO RECOMENDA o uso de Troponinas ultrassensíveis, por sua variabilidade com o sexo e possibilidade de níveis detectáveis mesmo em pessoas normais. Não oferece um racional para o diagnóstico de IAM com este tipo de marcador.

Entretanto, Harvey D. White [American Heart Journal, 2010; (159(6): 933-936] define IAM conforme os valores de Troponina US, conforme fluxograma abaixo. Revisão do UpToDate utiliza apenas elevações acima de 50% (independente dos valores basais).
Em resumo, devemos permanecer utilizando a troponina I ou T, com sensibilidade e especificidade já bem conhecidas e equilibradas em detrimento à Troponina ultrassensível que é multo sensível, mas muito baixa especificidade, logo maior chance de falso positivos, com consequências perigosas para o paciente (internamentos, tratamentos e intervenções desnecessárias).
Até a próxima postagem.
Aguardo os comentários.
 
Marcia Cristina.

sábado, 11 de agosto de 2012

Novos Anticoagulantes: abordagem do paciente em uso de dabigatran na vigência de sangramento ou no período perioperatório.


Novos Anticoagulantes: abordagem do paciente em uso de dabigatran na vigência de sangramento ou no período perioperatório.

Com a chegada dos novos anticoagulantes, em breve iremos nos deparar com suas complicações (notadamente sangramento) e com o seu manuseio frente a indicação de procedimentos cirúrgicos.

Abaixo, os nomes comerciais, posologias recomendadas e apresentações farmacêuticas disponíveis no Brasil.



Surge a questão: como manusear estas drogas nestas situações.


Dabigatran

 Deve ser suspenso pelo menos 24h antes do procedimento eletivo, a depender da função renal. Na tabela abaixo, a recomendação da literatura para suspensão conforme a função renal.

Função Renal
(Clearance Cr)
Meia-vida (horas)
Tempo de descontinuação após ultima dose de dabigatran antes da cirurgia


Risco baixo de sangramento perioperatório
Alto risco de sangramento perioperatório
> 80
13 (11 – 22)
24 horas
2 – 4 dias
> 60 e ≤ 80
15 (12 – 34)
24 horas
2 – 4 dias
  > 30 e ≤ 50
18 (13 – 23)
Pelo menos 2 dias
4 dias
≤ 30
27 (22 – 35)
2 a 5 dias
> 5 dias

Nota: São consideradas cirurgias de alto risco de sangramento as cirurgias cardíaca, abdominal ou envolvendo um órgão nobre, neurocirurgia, raquianestesia. São considerados de maior risco de sangramento os idosos, portadores de cardiopatia, nefropatia ou doença respiratória graves, pacientes que fazem uso de outro antiplaquetário.

Fonte:  van Ryn et al. Effect of dabigatran on coagulation assays and reversal strategies. Thrombosis and Haemostasis.03.6/2010. http://wiki.med.uottawa.ca/download/attachments/9764866/dabigatran-review.pdf?version=1&modificationDate=1310004752000


Nos procedimentos de urgência, devemos ter o suporte de um hematologista, reserva sanguínea e planejamento cirúrgico para abordagem através de técnicas menos invasivas e com menor risco de sangramento. Abaixo as recomendações para este tipo de procedimento.

 Recomendações:

• Parar o dabigatran.

• Verificar hemograma completo, eletrólitos (incluindo cálcio), função renal e  coagulação, incluindo  TTPa, TT e fibrinogênio. Se algum destes alterado, considerar adiar a cirurgia, se possível, até normalização ou até que tenha decorrido tempo suficiente para a liberação da droga.

• Quando a cirurgia for  urgente, consulte Serviço de Hematologia sobre medidas (fator VIIa recombinante, por exemplo) para controlar a hemorragia, se ocorrer, antes ou durante a cirurgia.

• O reinício do dabigatran após a cirurgia será determinado pela natureza da cirurgia, da urgência em reiniciar tromboprofilaxia (risco de evento tromboembólico) e do estado hemostático do paciente. Discussão com um hematologista é apropriado para determinar gestão de casos individuais.

Em situações onde o risco de sangramento é pequeno, é sugerido que dabigatran seja  reiniciado com uma única cápsula (75 mg, 110 mg ou 150 mg, dependendo da indicação) 1-4 horas após a cirurgia com a dose de início no dia seguinte ao procedimento cirúrgico. Dose normal após 3º dia de pós-operatório.

Rivaroxaban.

Na tabela abaixo as recomendações quanto ao manuseio do rivaroxaban no período perioperatório.
 
Tempo da última dose de rivaroxaban antes do procedimento
Risco padrão de sangramento
Alto risco de sangramento (grande cirurgia punção espinhal ou colocação de espinal / epidural do cateter, e outras situações em que a hemostasia completa pode ser exigido)
24 h
24-48 h

 Apesar da monitorização terapêutica não ser recomendada através de testes de coagulação de rotina, em certas situações clínicas em que a ausência de efeito anticoagulante induzida por rivaroxaban precisa ser assegurada, pode-se dosar o tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial (TTPa) e devem ser normais. Isto é importante:

• para garantir apropriada eliminação do rivaroxaban antes de procedimentos invasivos

• para garantir eliminação do rivaroxaban antes da terapêutica trombolítica aguda do AVC isquêmico

 NOTA: não há correlação segura entre TP elevada / TTPa e efeito terapêutico.
(Hillarp A et al. Efeitos do fator Xa oral directa inibidor rivaroxaban em ensaios de coagulação comumente usados. J Thromb Haemost 2011; 9:133-9).


Em caso de tomados os cuidados acima, porém paciente apresenta sangramento anormal ou chegando à emergência paciente com sangramento como complicação do uso de um dos novos anticoagulantes, as orientações são as seguintes:

Não há NENHUM agente de reversão ou antídoto para nenhuma das duas drogas.

Dados muito limitadas, essencialmente não-humanos, estão disponíveis para orientar o manejo de hemorragia.

Sangramento leve
• adiar a próxima dose ou interromper o tratamento


Moderada a grave hemorragia
• tratamento sintomático

• compressão mecânica

• intervenção cirúrgica

• reposição de líquidos e suporte hemodinâmico

• Transfusão de sangue produto • carvão oral (se rivaroxaban administrado há menos de 2 horas)

 NOTA: Não é dialisável

Sangramento ameaçador à vida
 • Medidas acima

• Carvão ativado

• Último recurso: PCC – Bebulin (Concentrado de Fator IX, Famp 600U) na dose de 25-50 U / kg



Referências:

1.    New Zeland Government. PHARMAC (Pharmaceutical Management Agency) Guidelines for testing and perioperative management of dabigatran - for possible inclusion into local management protocols.



3.    van Ryn et al. Effect of dabigatran on coagulation assays and reversal strategies. Thrombosis and Haemostasis.03.6/2010. http://wiki.med.uottawa.ca/download/attachments/9764866/dabigatran-review.pdf?version=1&modificationDate=1310004752000


Até a próxima postagem.

Aguardo comentários.



Marcia Cristina

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Manual de Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca

Compartilho com os amigos que em 15 de setembro de 2012 às 16h, no Centro de Convenções de Pernambuco, durante o 67o Congresso Brasileiro de Cardiologia, será lançado o Manual de Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca.

Estaremos esperando os amigos!

Marcia Cristina.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Avaliação do Risco Clínico para Cirurgias Não-Cardíacas: Avaliação Funcional


Na postagem anterior discorri sobre a Avaliação do Risco Clínico como sendo a segunda etapa da avaliação perioperatória. Nos pacientes com risco clínico intermediário e cirurgias de médio e alto risco devemos realizar a Avaliação da Capacidade Funcional,

A avaliação funcional implica em dois grandes grupos: Pacientes com capacidade funcional ruim (ou desconhecida nos inativos ou sedentários) e aqueles com capacidade funcional moderada ou excelente.

Será considerado  Teste Indutor de Isquemia como baixo risco quando se Escore baixo ao teste ergométrico (Escore de Duke > 4) • Teste normal ou pequenos defeitos de perfusão em repouso ou em teste de imagem com estresse • Contração miocárdica normal ou nenhuma mudança em limitada porção do miocárdio durante teste do ecocardiograma com estresse. Alterações com maior grau de intensidade que as citadas serão classificadas como risco intermediário ou alto.

Outros exames importantes a serem realizados conforme a indicação do procedimento ou da idade do paciente:


Notas:

 1 Deve também ser solicitado em todos os pacientes com história pessoal ou familiar de sangramento ou discrasia, em conjunto com avaliação da hematologia, independente do tipo de cirurgia a que serão submetidos.  

   2  No caso da hipertensão estágio 3 (PAS > 180 mmHg e/ou PAD > 110 mmHg) deve-se realizar o controle antes da cirurgia, sendo o paciente liberado somente após melhor estabilização dos níveis pressóricos. Orientação importante é a manutenção das medicações anti-hipertensivas até momentos antes da cirurgia e reinício o quanto mais precoce, para evitar efeito rebote. Se ingesta oral não for possível, iniciar anti-hipertensivos endovenosos para evitar elevações súbitas da PA e suas complicações. 

 3  Os pacientes com risco cardiovascular intermediário e alto submetidos a cirurgia de alto risco, devem fazer o pós-operatório em unidades de terapia intensiva ou semi-intensiva, por pelo menos, 72 horas, já que o pico de complicações cardiovasculares ocorre nos primeiros 3 dias. Deve ser rastreada isquemia miocárdica com marcadores de necrose (CPK, CKmb e Troponina I) e ECG a cada 24h, por 4 dias, mesmo nos assintomáticos e com achados inespecíficos do ECG.

4  Pacientes portadores de marcapasso (MP) e cardiodesfibrilador implantável (CDI), de preferência, deverão ser avaliados pelo arritmologista para programação adequada dos aparelhos. Utilizar o mínimo possível o bisturi elétrico bipolar. Na impossibilidade, utilizar a placa unipolar distante do sítio do MP. Após o implante de MP , adiar o procedimento cirúrgico por no mínimo 60 dias.



Ao concluir a análise clínica-funcional e inerente ao procedimento, cabe ao cardiologista concluir apenas sua avaliação. Não é de sua competência decidir sobre a realização ou não do procedimento. Assim, deve evitar termos como APTO para o PROCEDIMENTO.


A conclusão só deve ser encaminhada ao cirurgião após toda a avaliação clínica e funcional.


Costumo descrever da seguinte forma:


Paciente de baixo risco (ou risco intermediário) para complicações cardiovasculares no período perioperatório e procedimento proposto é de baixo risco para tais complicações. Proceder conforme planejamento cirúrgico.



Paciente de risco intermediário para complicações cardiovasculares no período perioperatório com capacidade funcional boa ou excelente (ou Teste Indutor de Isquemia negativo ou de baixo risco) e procedimento proposto é de baixo (intermediário ou alto) risco para tais complicações. Proceder conforme planejamento cirúrgico.



Paciente de alto risco para complicações cardiovasculares no período perioperatório, mas tem capacidade funcional boa ou excelente, tem Teste Indutor de Isquemia negativo ou de baixo risco, sendo assintomático ao esforço. Proceder conforme planejamento cirúrgico. Manter medicações em uso, inclusive no dia do procedimento. Reservar vaga de UTI no Pós-operatório. Acompanhamento cardiológico no pós-operatório é recomendado.


Até a próxima postagem.

Aguardo comentários.





sexta-feira, 25 de maio de 2012

Avaliação de risco clínico para cirurgias não-cardíacas.


Na postagem anterior discorri sobre a Avaliação do Risco Inerente ao procedimento  como sendo a primeira etada da avaliação perioperatória. Após definir o risco do procedimento, devemos realizar a Avaliação do Risco Clínico, risco este dependente das características clínicas e biológicas do próprio paciente. Algumas destas características podem ser corrigidas, amenizadas ou removidas por completo. Outras, como idade, são imutáveis e precisam apenas ser consideradas no planejamento das possíveis complicações. A segunda Diretriz de Avaliação Perioperatória da Sociedade Brasileira de Cardiologia dá a opção de alguns algoritmos e afirma que poderá ser escolhido qualquer um dos apresentados, uma vez que são melhores do que o acaso para predizer complicações perioperatórias. Dois destes algoritmos são mais conhecidos e acredito serem complementares: o da American College of Physicians(ACP) e do American College of Cardiology(ACC) / American Heart Association(AHA).

A proposta de avaliação de risco cirúrgico que irei colocar é uma adaptação destes dois protocolos, tentando minimizar as deficiências de cada um.




    
Em resumo, pacientes de baixo risco clínico (< 70 anos, sem DAC prévia, sem HVE importante ao ECG, sem EAP recente e com comorbidades estáveis, compensadas) podem realizar qualquer cirurgia sem avaliação adicional, além dos exames de rotina propostos abaixo.

Pacientes de alto risco, seja porque estão com cardiopatia sintomática ou pela avaliação clínica, devem ter suas cirurgias (qualquer uma) suspensas. Pacientes de risco clínico intermediário (idosos HAS, diabéticos, DAC prévia ou com IC) assintomáticos serão liberados a depender de sua AVALIAÇÃO FUNCIONAL, que será discutido na próxima postagem.


Até a próxima postagem.
Aguardo comentários.