Novos Anticoagulantes: abordagem do paciente em uso de dabigatran na
vigência de sangramento ou no período perioperatório.
Com a chegada dos novos
anticoagulantes, em breve iremos nos deparar com suas complicações (notadamente
sangramento) e com o seu manuseio frente a indicação de procedimentos
cirúrgicos.
Abaixo, os nomes
comerciais, posologias recomendadas e apresentações farmacêuticas disponíveis
no Brasil.
Surge a questão: como manusear
estas drogas nestas situações.
Função Renal
(Clearance Cr)
|
Meia-vida (horas)
|
Tempo de descontinuação após ultima
dose de dabigatran antes da cirurgia
|
|
|
|
Risco baixo de sangramento
perioperatório
|
Alto risco de sangramento
perioperatório
|
>
80
|
13
(11 – 22)
|
24
horas
|
2 –
4 dias
|
>
60 e ≤ 80
|
15
(12 – 34)
|
24
horas
|
2 –
4 dias
|
> 30 e ≤ 50
|
18
(13 – 23)
|
Pelo
menos 2 dias
|
4
dias
|
≤ 30
|
27
(22 – 35)
|
2
a 5 dias
|
>
5 dias
|
Nota:
São
consideradas cirurgias de alto risco de sangramento as cirurgias cardíaca, abdominal
ou envolvendo um órgão nobre, neurocirurgia, raquianestesia. São considerados
de maior risco de sangramento os idosos, portadores de cardiopatia, nefropatia
ou doença respiratória graves, pacientes que fazem uso de outro
antiplaquetário.
Fonte: van Ryn et al.
Effect of dabigatran on coagulation assays and reversal strategies. Thrombosis and Haemostasis.03.6/2010. http://wiki.med.uottawa.ca/download/attachments/9764866/dabigatran-review.pdf?version=1&modificationDate=1310004752000
Nos procedimentos de urgência, devemos ter o suporte
de um hematologista, reserva sanguínea e planejamento cirúrgico para abordagem
através de técnicas menos invasivas e com menor risco de sangramento. Abaixo as
recomendações para este tipo de procedimento.
• Parar o dabigatran.
• Verificar hemograma completo, eletrólitos
(incluindo cálcio), função renal e coagulação, incluindo TTPa, TT e fibrinogênio. Se algum destes
alterado, considerar adiar a cirurgia, se possível, até normalização ou até que
tenha decorrido tempo suficiente para a liberação da droga.
• Quando a cirurgia for urgente, consulte Serviço de Hematologia sobre
medidas (fator VIIa recombinante, por exemplo) para controlar a hemorragia, se
ocorrer, antes ou durante a cirurgia.
• O reinício do dabigatran após a cirurgia será
determinado pela natureza da cirurgia, da urgência em reiniciar
tromboprofilaxia (risco de evento tromboembólico) e do estado hemostático do
paciente. Discussão com um hematologista é apropriado para determinar gestão de
casos individuais.
Em situações onde o risco de sangramento é pequeno,
é sugerido que dabigatran seja reiniciado
com uma única cápsula (75 mg, 110 mg ou 150 mg, dependendo da indicação) 1-4
horas após a cirurgia com a dose de início no dia seguinte ao procedimento
cirúrgico. Dose normal após 3º dia de pós-operatório.
Rivaroxaban.
Na
tabela abaixo as recomendações quanto ao manuseio do rivaroxaban no período
perioperatório.
Tempo da última dose de rivaroxaban
antes do procedimento
|
|
Risco padrão de sangramento
|
Alto risco de sangramento (grande cirurgia punção
espinhal ou colocação de espinal / epidural do cateter, e outras situações em
que a hemostasia completa pode ser exigido)
|
24 h
|
24-48 h
|
• para garantir apropriada eliminação do rivaroxaban
antes de procedimentos invasivos
• para garantir eliminação do rivaroxaban antes da
terapêutica trombolítica aguda do AVC isquêmico
(Hillarp A et al. Efeitos do fator Xa oral directa
inibidor rivaroxaban em ensaios de coagulação comumente usados. J Thromb
Haemost 2011; 9:133-9).
Não há NENHUM agente de reversão
ou antídoto para nenhuma das duas drogas.
Dados muito limitadas,
essencialmente não-humanos, estão disponíveis para orientar o manejo de
hemorragia.
Sangramento leve
• adiar a próxima dose ou interromper o tratamento
Moderada a grave
hemorragia
• tratamento sintomático
• compressão mecânica
• intervenção cirúrgica
• reposição de líquidos e suporte hemodinâmico
• Transfusão de sangue produto • carvão oral (se
rivaroxaban administrado há menos de 2 horas)
NOTA: Não é
dialisável
Sangramento
ameaçador à vida
• Medidas
acima
• Carvão ativado
• Último recurso: PCC – Bebulin (Concentrado de
Fator IX, Famp 600U) na dose de 25-50 U / kg
Referências:
1. New Zeland Government. PHARMAC (Pharmaceutical
Management Agency) Guidelines for testing and perioperative management of
dabigatran - for possible
inclusion into local management protocols.
3. van Ryn et al.
Effect of dabigatran on coagulation assays and reversal strategies. Thrombosis and Haemostasis.03.6/2010. http://wiki.med.uottawa.ca/download/attachments/9764866/dabigatran-review.pdf?version=1&modificationDate=1310004752000
Até
a próxima postagem.
Aguardo
comentários.
Marcia Cristina
Parabéns pelo tópico, Dra Marcia, pois com o advento recente desses novos anticoagulantes, a literatura ainda deixa a desejar quanto às medidas a serem tomadas em um quadro de hemorragia na vigência do uso de tais drogas. Só gostaria de saber se ambos não são dialisáveis ou apenas o rivaroxaban? Abraços
ResponderExcluirCleobenysson Cruz
Obrigada Cleobenyssom! Ambos não são dilapidáveis!
ResponderExcluirÓtima postagem Dra Marcia! Parabéns! Uma dúvida... O concentrado de fator IX é feito em dose única ou pode ser repetido ( nos casos de sagramento grave com rivaroxaban) ? Deborah Costa.
ResponderExcluirBoa Tarde e obrigada pelas informações.
ResponderExcluirGostaria de saber no caso de paciente com FA crônica submetida à cirugia de transplante de córnea, quando deve ser reintroduzido o rivaroxaban no pós operatório. Grata.
Olá Doutora Marcia Cristina: Sua postagem aborda importante assunto ainda pouco difundido na literatura médica. In casu, em cirurgias eletivas com risco de sangramento, não há dúvida da necessidade de suspensão do uso dos novos anticoagulantes, naquelas particularidades e prazos assinalados em seu excelente estudo.
ResponderExcluirContudo, persiste a dúvida: Estando o paciente, exemplo: portador de FA crônica, sem anticoagulação por mais de 24 horas, qual o risco provável de tromboembolismo arterial, tanto no pré quanto no pós operatório? Leve-se em conta que durante o procedimento cirúrgico com anestesia geral a possibilidade de fenômeno embólico em átrio esquerdo é bem maior. Qual o risco de uso da heparina fracionada durante a cirurgia? Gostaria de seus abalizados esclarecimentos destas dúvidas. Grato Edmundo Santiago.