Diariamente os pós-graduandos em cardiologia me questionam
quanto ao uso ou manutenção de Aspirina para os pacientes no ambulatório e
estes dias uma amiga muito sabida me veio com uma pergunta INQUISITORA:
Homem, 68 anos com placa calcificada em coronária, sem evento prévio
e sem diabetes deve receber aspirina como prevenção primária???
Pois bem, compartilho com todos o que
revisei:
Primeiro, a definição de PREVENÇÃO PRIMÁRIA
– prevenção de DOENÇA em indivíduos sãos. Inclui modificação de estilo de vida,
vacinação, tratamento de fatores de risco.
- Risco de Eventos coronarianos em 10 anos: http://www.mcw.edu/calculators/Coronary-Heart-Disease-Risk.htm
- Risco de AVCi em 10 anos: http://www.westernstroke.org/PersonalStrokeRisk1.xls
- Risco de sangramento GI x Risco CV: http://servidor.lya2.es/calculadora/pag1.php?idioma=2
Interessante
porque calcula não só os riscos, como calcula o NNT e NNH, além do benefício de
inibidor de bomba de prótons ou não.
Referências
1. Wolff T, Miller T, Ko S. Aspirin for the Primary Prevention of Cardiovascular Events: An Update of the Evidence for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med. 2009;150:405-410. Disponível em: http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf09/aspirincvd/aspcvdart.pdf
2. Executive Summary: Standards of Medical Care in Diabetes 2013. DIABETES CARE. 2013; 36 (SUPPLEMENT 1). DOI: 10.2337/dc13-S004
Lembremo-nos sempre da máxima: LESS IS MORE.
Até a próxima postagem.
Marcia Cristina.
Estava com esta dúvida nesta semana,foi muito bom!outra dúvida(para variar) no caso citado a senhora só indicou o AAS porque tinha conhecimento que o mesmo possuía uma placa calcificada em coronária,caso contrário não seria indicado?
ResponderExcluirObrigada pelo retorno e pela dúvida: esta é e será a dúvida de muitos. Qual o papel dos 'reclassificadores de risco', recomendados pelas diretrizes brasileiras de HAS e aterosclerose, bem como pelo Guidelines da AHA/ACC para prevenção primária?
ExcluirA questão dos "reclassificadores de risco' implica em avaliar adicionalmente o risco de pessoas assintomáticas de risco cardiovascular intermediário com a realização de exames que detectem doença subclínica como USG de carótidas, em busca de espessamento medio-intimal (IMT), ITB (índice tornozelo-braquial) e TAC de coronárias.
O IMT apesar de ser um teste rápido, de baixo custo,não existe padronização da técnica nem limites de normalidade bem estabelecidos, o que reduz sua reprodutibilidade e dificulta a utilização do método na rotina clínica diária.
O ITB é barato, rápido, fácil de ser executado em nível ambulatorial, não invasivo, possui grande aceitação pelos pacientes e pequena variabilidade intra e iter-observador. Hoje considerado um marcador de doença aterosclerótica subclínica quando < 0,9.
O Escore de Cálcio coronariano mais recente marcador de aterosclerose associado a eventos cardiovasculares futuros, tem a vantagem de não usar contraste, ser rápido, porém carece de acessibilidade, é caro e implica em exposição à radiação (embora menos que em uma cintilografia). É o único que tem estudo sobre reclassificação de risco comparado ao Framingham. Mas reclassifica, mais efetivamente para baixo risco, o que não tem muito valor clínico, já que não iremos deixar de indicar medidas de modificação de estilo de vida por ser de baixo risco.
Assim, a estratégia de RECLASSIFICAÇÃO DE RISCO dos pacientes de baixo e médio risco, como diz o amigo Luis Cláudio em seu blog medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com.br, "provavelmente é um falso paradigma". Antes de considerarmos estas medidas de reclassificação como rotineiras e válidas (assim como fazemos para estratégias terapêuticas) a sua eficácia deve ser testada por ensaios clínicos, comparando a incidência de eventos cardiovasculares entre pacientes randomizados para realizar uma das estratégias (IMT, ITB ou escore de cálcio) e não realizar o exame. Afinal, não é porque um método é um marcador de risco da ocorrência de eventos que é capaz de reduzir a ocorrência destes eventos.
Finalmente, apenas um estudo (JAMA. 2010 Mar 3;303(9):841-8. doi: 10.1001/jama.2010.221) avaliou a indicação de aspirina pacientes assintomáticos com aterosclerose subclínica avaliada pelo índice tornozelo-braquial. Nâo houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de eventos (IAM fatal e não fatal, AVC fatal e não fatal ou Revascularização) entre os grupos AAS (13.7 eventos per 1000 pessoas-ano) e placebo (13.3 eventos per 1000 pessoas-ano), com hazard ratio [HR] de 1.03 (IC 95% 0.84-1.27). Também não houve diferença estatisticamente significativa na mortalidade total 176 vs 186 mortes, respectivamente nos grupos AAS e placebo (HR, 0.95; 95% CI, 0.77-1.16). Mas, não aumentou o risco de sangramento maior que ocorreu em 34 participantes no grupo AAS (2.5 por 1000 pessoas-ano) e 20 (1.5 por 1000 pessoas-ano) nos que fizeram uso do placebo (HR, 1.71; 95% CI, 0.99-2.97). Portanto, é questionável se aspirina deve ser iniciada nos assintomáticos reclassificados para alto risco não só por este como por qualquer outro método reclassificador.
Desta forma, concluo que não solicito exames qualquer que sejam para reclassificação de risco. Mas, em tendo o paciente agora o diagnostico de doença aterosclerótica subclínica, sendo ele de risco intermediário ou alto, iniciaria a AAS. Em sendo ele de baixo risco cardiovascular, faria o contraponto apoiada neste estudo clínico do ITB e estimularia a modificação de risco.
Aguardando mais contribuições....
Marcia Cristina.
muito boa a revisão Dra. Marcia!!! Agora o uso do AAS ficou mais claro pra mim. Obrigada!!
ResponderExcluirMuito bom!!!
ResponderExcluirDra. Márcia , bom dia.
ResponderExcluirSalvo melhor juizo este homem de 68 anos teria uma estimativa de risco de 11.2% em 10 anos pelo ASCVD RISK ESTIMATOR ,considerando fatores de risco classificados como ótimos. Pelo Framinghan o risco estaria em torno de 10-12% , no mínimo. Ou seja , deveria tomar AAS. Se a placa calcificada fosse na carótida diagnosticada por ultrassonografia com doppler realizada muitas vezes sem motivacao clínica imagino que o critério seria o mesmo. Parece-me entao que isso aumentaria muito a indicacao de AAS. Mas será que vale a pena prescrever tanto AAS para doenca subclínica?
Att.
Marcos César - Goiânia