segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Discutindo a Enquete: Como você estima o risco de sangramento dos seus pacientes em uso de anticoagulação oral?

Resultado da Enquete
 
 
 
A maioria dos votantes (7/11) usa o HAS-BLED como escore para predizer o risco de sangramento dos seus pacientes em uso de anticoagulação oral.
 
Pois bem.
 
Com o envelhecimento populacional, mais pacientes idosos têm recebido a indicação de anticoagulação oral quando desenvolvem FA. Contudo, a decisão sobre o risco-benefício da anticoagulação, principalmente no referente ao risco de sangramento tem sido um desafio diário, mesmo com os novos anticoagulantes.
Vários escores clínicos têm sido desenvolvidos no sentido de avaliar este risco, sendo o mais conhecido deles o HAS-BLED por ter sido indicado pela Diretriz Europeia de FA.
Contudo, não havia sido testado o poder descriminatório dos vários escores em um mesmo paciente quanto à predição de sangramento maior.
Estudo publicado em Novembro de 2012 no American Journal of Medicine. Foram acompanhados 515 pacientes em uso de anticoagulantes orais por 12 meses, sendo a maioria com idade maior ou igual a 70 anos e portadores de FA. Foi estimado o risco de sangramento em cada paciente através de sete escores clínicos e da avaliação subjetiva do clínico quanto ao risco de sangramento (os clínicos eram orientados a estimar o risco anual de cada paciente antes da alta em uma escala contínua de 0% a 100% e depois classificá-lo como sendo de baixo, médio ou alto risco de sangramento).
Durante o seguimento, 35 pacientes dos 515 apresentaram algum sangramento maior (6,8%). A proporção de sangramentos maiores variou nos sete escores conforme o estrato de risco: 3% a 5.7% para pacientes de baixo risco, 6.7% a 9.9% para intermediário risco e 7.4% a 15.4% para aqueles de alto risco.
De uma forma geral, todos os escores tiveram uma baixa acurácia preditiva com a estatística C, variando de 0,54 a 0,61, não havendo diferença estatisticamente significante entre os escores  (p =0.84). Dentre os escores, o ATRIA (Anticoagulation and Risk Factors in Atrial Fibrillation score) foi o que apresentou uma performance um pouco melhor que o acaso com estatística C  de 0.61 (IC 95% de 0.52-0.70). Nenhum escore foi superior estatisticamente que a avaliação subjetiva dos clínicos que teve  estatística C de 0.55 (p=0.94).
Em resumo, tanto os escores como a avaliação clínica subjetiva são maus preditores do risco de sangramento maior com o uso de anticoagulação oral, não devendo ser este ou aquele escore elevado um impedimento ao uso da medicação nos pacientes de alto risco de eventos TE.
O acompanhamento criterioso dos pacientes em anticoagulação, a educação individual dos pacientes e seus familiares quanto ao manuseio destas drogas deve ser a regra para todos os pacientes, independente de serem de baixo, médio ou alto risco de sangramento por qualquer um dos escores ou pelo julgamento clínico.
 
Abaixo, a descrição sumária dos escores utilizados no estudo e um link para o estudo na íntegra para os interessados.
 
 
 
 
 
Por enquanto é so. Até a próxima postagem....
 
Marcia Cristina.


2 comentários:

  1. Um outro estudo prospectivo, recentemente publicado na CHEST mostrou uma acurácia melhor do que este citado, de 0,71 para o HAS-BLED. O HAS-BLED foi superior ao ATRIA quando a análise foi feita por variáveis dicotomizadas (graus de riscos). Neste estudo, a avaliação clínica não foi incluída. E o follow-up foi maior, de 952 dias (785-1,074).

    (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22722228)
    Roldan V, et al. Predictive value of the HAS-BLED and ATRIA bleeding scores for the risk of serious bleeding in a "real-world" population with atrial fibrillation receiving anticoagulant therapy. Chest. 2013 Jan;143(1):179-84.

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  2. Ou seja...bom senso acima de tudo! Obrigada pelas dicas chefa!

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