terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sessão de Caso Clínico : Dor torácica na Emergência


Dor torácia... dor de cabeça para qualquer urgentista, cardiologista ou clínico. Vários são os protocolos existentes que procuram normatizar o atendimento destes pacientes nas urgências, mas vemos que quanto mais se atende paciente com dor torácica, mais dúvidas teremos...

Assim, vamos tentar discutir alguns casos clínicos reais de dor torácica e tentar construir juntos o raciocínio diagnóstico. Para isso será importante a colaboração de quem acompanha o blog. Não tenham vergonha de postar... o objetivo é o treinamento e não medir conhecimento de ninguém... juntos todos aprenderemos.

Vamos ao primeiro caso clínico, fresquinho, desta semana.

1o Caso Clínico:

Homem, 68 anos, hígido, sem qualquer comorbidade (dizia apenas que a pressão costuma elevar-se com stress), ativo, magro. Nega tabagismo, etilismo, história patológica ou cirúrgica prévia.

Há 2 h do atendimento na emergência, primeiro epirsódio de desconforto em aperto retroesternal, difuso, com duração de 15 minutos, sem sintomas associados, no repouso, que cedeu espontaneamente. Foi orientado pela esposa a procurar emergencia pois a mesma havia sentido dor semelhante há 1 ano e foi "um pequeno infarto".

Chega assintomático, com exame físico normal, exceto por PA 160x80mmHg. FC 60 bpm. Muito tenso, assim como esposa.

Diante do ECG abaixo, que conduta inicial tomar? Que diagnóstico fazer? Interna ou fica na emergencia e libera depois? Muitas dúvidas...


Obrigada pelas colaborações Vini e Deborah.

Ambos descreveram bem o caso:

Trata-se de paciente com dor típica de isquemia miocárdica, de alta probabilidade para DAC (idade > 65 anos) e com achado ao ECG de achados sugestivos da Síndrome de Wellens1 .

A síndorme de Wellens é também conhecida como Síndrome da a. descendente anterior e inclui:

  1. Alterações caracteristicas da onda T (onda T plus-minus em V2) em paciente com Historia ode dor torácica típica de angina.
  2. Níveis de marcadores miocárdicos normais ou discretamente elevados. 
  3. Ausencia de alterações do segmento ST.
Foi inicialmente descrita por Zwaan, Wellens e colaboradores no ínício dos anos 80, ao descreverem um grupo de pacientes com dor típica, onda T plus-minus em V2 que subsequentemente desenvoviam IAM anterior extenso. Está associada a lesao proximal severa em DA.

Está presente em 14 a 18% dos pacientes com SCA SSST atendidos em emergencia e a evolução para IAM anterior ocorre rapidamente, com média de 8,5 dias do início dos sintomas.

Portanto, seu reconhecimento é importante para evitar o subtratamento de pacientes com baixo risco clínico (Timi Risk ou Grace baixos).

Assim, o paciente deveria ser considerado realmente como tendo alto risco de eventos adversos (IAM e morte) e tratado de forma mais invasiva em UTI, com tripla antiagregação, controle de FC e PA, estatina e cineangiocoronariografia nas proximas 24h.

Evolução:

O paciente evoluiu assintomático, porém com o ECG abaixo após 12h de observação.


Troponina I neste momento = 0,48  (normal até 0,16). Seguia assintomático.

Realizada, então cineangiocoronariografia que confirmou LESÃO SEVERA, SUBOCLUSIVA NO 1/3 PROXIMAL DE DA, tratada com ATC + Stent convencional.

Recebeu alta, assintomático para acompanhamento ambulatorial.

A dica, portanto fica: Síndrome de Wellens.

Até o próximo caso.

Marcia Cristina.


5 comentários:

  1. Paciente de alta probabilidade pra ter DAC ( idade >65 anos) com dor torácica típica. Exame físico somente com alteração discreta da PA. No ECG tem onda T plus minus em V2. Síndrome de Wellens: Plus minus em V2 em paciente com dor torácica típica sugere lesão suboclusiva de 1/3 proximal de DA. Tem que internar e tratar como SCASSST de alto risco com indicação de CATE.

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  2. Paciente de alta probabilidade com dor torácica típica e ECG com T negativa em V1, plus minus em V2 e negativa em AVL sem preencher características de isquemia observadas à fotografia , TIMI = 1 , deverá seriar ecg e MNM , em caso não se alterando , deverá ser submetido a teste indutor de isquemia.

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  3. Dra .Márcia qual é a resposta?Estou curiosa!

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  4. Cheguei atrasado, mas mesmo assim consegui aprender... Muito bom o caso.
    Parabéns, Dra. Marcia e todos os participantes
    Cleobenysson

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  5. Boa tarde Dra Marcia; primeiro gostaria de parabeniza-la belo excelente Blog.
    Sou cardiologista, exercendo a profissão em Salvador/ Bahia e gostaria de solicitar permissão para copiar o caso acima com objetivo de apresentar aos residentes e colocar no Blog (com a suas referencias) da instituição que trabalho.
    Atenciosamente, Neudson Gomes CRM 12.787

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