Avaliação Perioperatória de Cirurgia Não-Cardíaca
É demanda comum aos cardiologistas a
realização do tal “PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG”. Criou-se um eufemismo sobre o
PODER do cardiologista de vetar a realização deste ou daquele procedimento, bem
como de IMPEDIR qualquer complicação com sua avaliação positiva.
Desta forma, até procedimentos simples como
uma exérese de tumor de pele ou uma artroscopia não são realizados sem o tal
PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG.
Por outro lado, o tal PARECER CARDIOLÓGICO COM
ECG foi se “APERFEIÇOANDO” e virou “PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG, TE,
CINTILOGRAFIA, ECOCARDIOGRAMA”. Não são raros os casos reais de pacientes que
foram para o cardiologista, assintomáticos, para realizar o tal PARECER
CARDIOLÓGICO e acabaram em uma mesa cirúrgica realizando uma CIRURGIA DE
REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA e IMPEDIDOS DE TRATAR SUA CATARATA.
Ao mesmo tempo, muitos colegas banalizam o tal
PARECER CARDIOLÓGICO e MINIMIZAM a sua realização, liberando pacientes de alto
risco apenas com ECG.
Tudo isto gera um não sei quantos modos de
realização do tal PARECER CARDIOLÓGICO, deixando confusos pacientes, colegas em
formação e até mesmo os mais experientes.
Por conta disto, resolvi fazer uma postagem
sobre o assunto, a partir das pesquisas que temos feito sobre o tema e do que
temos feito nos ambulatórios da FUNCORDIS e do PROCAPE com os
residentes/especializandos de cardiologia nos últimos dois anos.
Será uma série de 4 postagens assim
distribuídas:
1ª Por que realizar a AVALIAÇÃO DE RISCO
PERIOPERATÓRIA e em quem realizar;
2ª Avaliação de Risco clínico;
3º Avaliação Funcional e Estratificação do
risco perioperatório e
4º Como escrever o laudo avaliativo e
miscelâneas.
Avaliação Perioperatória de Cirurgia
Não-Cardíaca: Por que e Em quem?
O termo Avaliação de Risco Perioperatório deve ser
utilizado em detrimento ao conhecido PARECER CARDIOLÓGICO, pois compreende mais
do que uma simples avaliação cardiológica. Compreende uma avaliação que
contemple todo o período desde o momento da indicação cirúrgica até o período
pós-operatório tardio. Habitualmente, cabe ao cardiologista a avaliação de
risco perioperatório, sendo hoje comum a presença do cardiologista na equipe
cirúrgica em cirurgias de alto risco como cirurgias bariátricas, vasculares de
grande porte, ortopédicas de quadril e fêmur, transplantes não cardíacos. A sua
função é fazer também o acompanhamento pós-operatório destes pacientes. Assim,
é importante que o cardiologista tenha a formação e conhecimento das possíveis
complicações, de forma a antecipar-se e planejar a melhor estratégia de
prevenção.
A Avaliação Pré-operatória:
Tem como principal objetivo estimar o risco de
complicações cardiológicas e não-cardiológicas do paciente em relação ao
procedimento a que será exposto, determinando, assim a relação risco-benefício.
E, uma vez determinada este risco, delinear a melhor estratégia e intervenção
para minimizá-lo. Em geral, não necessita mais que duas consultas para ser
finalizada, podendo mesmo ser realizada em uma única consulta nos procedimentos
de baixo risco de complicações.
Não existe consenso sobre a validade de uma avaliação
de risco perioperatório na literatura. Apesar disto, os cirurgiões costumam não
aceitar relatórios com idade maior que 3-4 meses, habitualmente requerendo nova
avaliação.
Segundo as Sociedades Americana, Européia e Brasileira
de Cardiologia, a avaliação de risco perioperatória deveria ser realizada em
pacientes de risco médio e intermediário de complicações perioperatórias (não
confundir com risco cardiovascular) e cirurgias de médio e alto risco de
complicações.
Portanto, deveriam realizar a avaliação:
- pacientes com 40 anos ou mais;
- diabéticos;
- pacientes com mais de dois fatores de risco
clássicos para doença aterosclerótica;
- portadores de cardiopatia, doença vascular
periférica ou AVE prévio;
- grandes obesos e
- cirurgias de médio e grande porte.
Até a próxima postagem.
Aguardo comentários.
Marcia Cristina