sábado, 14 de abril de 2012

Avaliação Perioperatória de Cirurgia Não-Cardíaca


Avaliação Perioperatória de Cirurgia Não-Cardíaca

É demanda comum aos cardiologistas a realização do tal “PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG”. Criou-se um eufemismo sobre o PODER do cardiologista de vetar a realização deste ou daquele procedimento, bem como de IMPEDIR qualquer complicação com sua avaliação positiva.
Desta forma, até procedimentos simples como uma exérese de tumor de pele ou uma artroscopia não são realizados sem o tal PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG.
Por outro lado, o tal PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG foi se “APERFEIÇOANDO” e virou “PARECER CARDIOLÓGICO COM ECG, TE, CINTILOGRAFIA, ECOCARDIOGRAMA”. Não são raros os casos reais de pacientes que foram para o cardiologista, assintomáticos, para realizar o tal PARECER CARDIOLÓGICO e acabaram em uma mesa cirúrgica realizando uma CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA e IMPEDIDOS DE TRATAR SUA CATARATA.
Ao mesmo tempo, muitos colegas banalizam o tal PARECER CARDIOLÓGICO e MINIMIZAM a sua realização, liberando pacientes de alto risco apenas com ECG.
Tudo isto gera um não sei quantos modos de realização do tal PARECER CARDIOLÓGICO, deixando confusos pacientes, colegas em formação e até mesmo os mais experientes.
Por conta disto, resolvi fazer uma postagem sobre o assunto, a partir das pesquisas que temos feito sobre o tema e do que temos feito nos ambulatórios da FUNCORDIS e do PROCAPE com os residentes/especializandos de cardiologia nos últimos dois anos.
Será uma série de 4 postagens assim distribuídas:
1ª Por que realizar a AVALIAÇÃO DE RISCO PERIOPERATÓRIA e em quem realizar;
2ª Avaliação de Risco clínico;
3º Avaliação Funcional e Estratificação do risco perioperatório e
4º Como escrever o laudo avaliativo e miscelâneas.

Avaliação Perioperatória de Cirurgia Não-Cardíaca: Por que e Em quem?

O termo Avaliação de Risco Perioperatório deve ser utilizado em detrimento ao conhecido PARECER CARDIOLÓGICO, pois compreende mais do que uma simples avaliação cardiológica. Compreende uma avaliação que contemple todo o período desde o momento da indicação cirúrgica até o período pós-operatório tardio. Habitualmente, cabe ao cardiologista a avaliação de risco perioperatório, sendo hoje comum a presença do cardiologista na equipe cirúrgica em cirurgias de alto risco como cirurgias bariátricas, vasculares de grande porte, ortopédicas de quadril e fêmur, transplantes não cardíacos. A sua função é fazer também o acompanhamento pós-operatório destes pacientes. Assim, é importante que o cardiologista tenha a formação e conhecimento das possíveis complicações, de forma a antecipar-se e planejar a melhor estratégia de prevenção.

A Avaliação Pré-operatória:
Tem como principal objetivo estimar o risco de complicações cardiológicas e não-cardiológicas do paciente em relação ao procedimento a que será exposto, determinando, assim a relação risco-benefício. E, uma vez determinada este risco, delinear a melhor estratégia e intervenção para minimizá-lo. Em geral, não necessita mais que duas consultas para ser finalizada, podendo mesmo ser realizada em uma única consulta nos procedimentos de baixo risco de complicações.
Não existe consenso sobre a validade de uma avaliação de risco perioperatório na literatura. Apesar disto, os cirurgiões costumam não aceitar relatórios com idade maior que 3-4 meses, habitualmente requerendo nova avaliação.
Segundo as Sociedades Americana, Européia e Brasileira de Cardiologia, a avaliação de risco perioperatória deveria ser realizada em pacientes de risco médio e intermediário de complicações perioperatórias (não confundir com risco cardiovascular) e cirurgias de médio e alto risco de complicações.
Portanto, deveriam realizar a avaliação:
- pacientes com 40 anos ou mais;
- diabéticos;
- pacientes com mais de dois fatores de risco clássicos para doença aterosclerótica;
- portadores de cardiopatia, doença vascular periférica ou AVE prévio;
- grandes obesos e
- cirurgias de médio e grande porte.

Até a próxima postagem.
Aguardo comentários.

Marcia Cristina